Fatores associados

Os fatores que causam a dor femoropatelar são complexos e as pesquisas atuais ainda não os esclareceram completamente. Entretanto, estudos transversais conduzidos em pessoas com dor femoropatelar indicam a presença de diversos comprometimentos nessa população, incluindo fatores biomecânicos, funcionais e não-mecânicos. É importante ressaltar que devido à natureza multifatorial da condição, nem todos os pacientes com dor femoropatelar apresentarão todas as alterações já encontradas nessa população.

Nessa página, você encontrará informações sobre quais são os principais fatores associados a dor femoropatelar.

A apresentação de déficits biomecânicos em pacientes com dor femoropatelar é comum e variada.1 Portanto, os clínicos devem avaliar cuidadosamente os padrões de movimento ao longo da cadeia cinética durante as diferentes tarefas, pois a quantidade de déficits biomecânicos identificados podem indicar uma condição mais grave2 e podem ajudar a orientar um plano de tratamento específico individual.

As alterações biomecânicas podem ser divididas em proximais, locais e distais.3,4

  • Na região proximal, as principais alterações encontradas incluem diminuição da força muscular, diminuição da potência muscular e atraso na ativação dos músculos do quadril. Além disso, alterações no padrão do movimento como queda contralateral da pelve em atividades com suporte de peso unipodal, e aumento da adução e rotação do quadril também são comumente encontradas.1,3,4
  • Fatores locais incluem diminuição da força e potência muscular dos extensores e flexores de joelho, diminuição do ângulo de flexão do joelho e aumento da abdução do joelho durante a descarga de peso.1,3,4
  • Na região distal, as principais alterações aumento da pronação do pé e da eversão do retropé.1,3,4

Nem todas essas alterações estão presentes em todos os pacientes com dor femoropatelar. Por isso, uma avaliação abrangente é importante para que o tratamento seja direcionado e individualizado para as alterações específicas daquele paciente.

Associado as diversas alterações biomecânicas apresentadas, pessoas com dor femoropatelar apresentam diminuição da capacidade funcional mensurada tanto de maneira auto-reportada  quanto por testes funcionais. Algumas evidências reportam pior desempenho em testes funcionais incluindo a descida de degrau, salto unipodal, teste de prancha lateral e frontal.5,6

Fatores psicológicos

O modelo biomédico isolado possui limitações inerentes ao paradigma complexo da percepção da dor humana.

Níveis elevados de ansiedade, depressão, catastrofização da dor e cinesiofobia (medo do movimento) foram relatados em pacientes com dor femoropatelar,7 os quais têm a capacidade de influenciar negativamente a dor, a função física e os comportamentos relacionados à atividade.8,9

A presença dessas alterações, em combinação com evidências indicando reduções na dor e incapacidade associadas a melhorias na saúde psicológica do indivíduo com dor femoropatelar,10 destacam a importância de incluir a avaliação dos componentes não-mecânicos durante o exame clínico e integrar esses achados em seu eventual plano de tratamento.

 

Qualidade de vida

Os sintomas da dor femoropatelar parecem trazer importantes consequências para o indivíduo acometido. Uma revisão sistemática recente11 reportou que pessoas com dor femoropatelar possuem diminuição significativa da qualidade de vida em comparação a pessoas assintomáticas e a valores normativos populacionais; entretanto, devido ao número limitado de estudos, não foi possível determinar os fatores associados a esse comprometimento na qualidade de vida.

 

Mecanismos da dor

Duas revisões sistemáticas12,13 reportaram evidência moderada de que pessoas com dor femoropatelar apresentam menor limiar pressórico de dor em regiões locais, indicando a presença de hiperalgesia mecânica local, e menor limiar pressórico de dor em regiões distantes ao joelho, indicando a presença de hiperalgesia generalizada, comparado a pessoas assintomáticas. Além disso, uma revisão sistemática recente reportou que indivíduos com dor femoropatelar apresentam sinais de sensibilização central (como alteração na modulação condicionada da dor e somação temporal facilitada), indicando modulação alterada da dor.14 Devido a característica crônica da dor femoropatelar, é possível que o disparo nociceptivo prolongado resulte em manifestações de sensibilização periférica (responsividade aumentada e limiar reduzido dos neurônios nociceptivos na periferia à estimulação de seu campo receptivo) e sensibilização central (aumento da atividade das vias de facilitação da dor e o mau funcionamento das vias descendentes inibitórias da dor). Como consequência da perturbação do sistema nociceptivo causada pela sensibilização periférica ou central, é possível que clinicamente, a pessoa apresente essa diminuição do limiar pressórico de dor, também chamado de hiperalgesia (ou seja, “dor aumentada como consequência de um estímulo que normalmente provoca dor”).15

Sobrepeso e obesidade

Evidências recentes vêm destacando que o sobrepeso e a obesidade são fatores associados com a dor femoropatelar. Em uma revisão sistemática,16 foi encontrado que adultos jovens com dor femoropatelar apresentam maior índice de massa corporal (IMC) em comparação a adultos jovens assintomáticos. Em outra população de adultos jovens, 38% da amostra apresentou sobrepeso ou obesidade com base no seu IMC.17 Além disso, mulheres com dor femoropatelar apresentaram maior porcentagem de gordura corporal e menor porcentagem de massa muscular esquelética.18 Isso é particularmente importante, já que um estudo recente indicou que maior IMC e porcentagem de gordura corporal e menor porcentagem de massa muscular esquelética estão associados com pior capacidade funcional e menor força muscular dos extensores e flexores de joelho, e abdutores de quadril em adultos jovens com dor femoropatelar.17


Agora que você já revisou tudo sobre os fatores associados a dor femoropatelar, teste seu conhecimento respondendo ao quiz abaixo.

Referências

  1. Powers et al. 2017. Evidence-based framework for a pathomechanical model of patellofemoral pain: 2017 patellofemoral pain consensus statement from the 4th International Patellofemoral Pain Research Retreat, Manchester, UK: part 3.
  2. Ferrari et al. 2018. Higher pain level and lower functional capacity are associated with the number of altered kinematics in women with patellofemoral pain.
  3. Powers et al. 2012. Patellofemoral pain: proximal, distal, and local factors, 2nd International Research Retreat.
  4. Lankhorst et al. 2013. Factors associated with patellofemoral pain syndrome: a systematic review.
  5. Priore et al. 2019. Influence of kinesiophobia and pain catastrophism on objective function in women with patellofemoral pain.
  6. Nunes et al. 2019. People with patellofemoral pain have impaired functional performance, that is correlated to hip muscle capacity.
  7. Maclachlan et al. 2017. The psychological features of patellofemoral pain: a systematic review.
  8. Domenech et al. 2013. Influence of kinesiophobia and catastrophizing on pain and disability in anterior knee pain patients.
  9. De Oliveira Silva et al. 2020. Pain and disability in women with patellofemoral pain relate to kinesiophobia, but not to patellofemoral joint loading variables.
  10. Doménech. 2014. Changes in catastrophizing and kinesiophobia are predictive of changes in disability and pain after treatment in patients with anterior knee pain.
  11. Coburn et al. 2018. Quality of life in individuals with patellofemoral pain: A systematic review including meta-analysis.
  12. De Oliveira Silva et al. 2019. Manifestations of pain sensitization across different painful knee disorders: A systematic review including meta-analysis and metaregression.
  13. Bartholomew et al. 2019. Altered pain processing and sensitisation is evident in adults with patellofemoral pain: a systematic review including meta-analysis and meta-regression.
  14. Sigmund et al. 2021. Exploring the pain in patellofemoral pain: A systematic review and meta-analysis examining signs of central sensitization.
  15. IASP. 2017. IASP terminology. https://www.iasp-pain.org/Education/Content.aspx?ItemNumber=1698. Published 2017.
  16. Hart et al. 2017. Is body mass index associated with patellofemoral pain and patellofemoral osteoarthritis? A systematic review and meta-regression and analysis.
  17. Ferreira et al. 2021. Overweight and obesity in young adults with patellofemoral pain: Impact on functional capacity and strength.
  18. Ferreira et al. 2021. Exploring overweight and obesity beyond body mass index: a body composition analysis in people with and without patellofemoral pain.